quarta-feira, 7 de novembro de 2007

futebol, muito samba e muito show de rock'n roll

MANIFESTO II

"A literatura de um país pobre
não pode ser pobre de idéias.
Pobre da arte de um país
pobre de idéias.
Pobre da ciência de um país
pobre de idéias.
Num país pobre,
não se pode desprezar
nenhum repertório.
Muito menos
os repertórios mais sofisticados.
Os mais complexos.
Os mais difíceis de aceitar à primeira vista.
Lembrem-se de Santos Dumont.
Sempre haverá quem diga
que num país pobre
não se pode ter energia nuclear
antes de resolver o problema
da merenda escolar.
Errado.
Num país pobre,
movido a carro de boi,
é preciso pôr o carro na frente dos bois."

Paulo Leminski

Eu conheço essa crítica leminskiana há muito tempo, acho que uns 5 anos, e por mais que tenham me "explicado" na época, só hoje é que ela me faz sentido. Antigamente, achava a visão bastante radical (energia nuclear parecia coisa de filmagem antiga com cogumelo de fumaça e japonês correndo desesperadamente) e pessimista em relação ao país. Não é. Na verdade, é mais para um conselho muito bem dado. Uma constatação e, finalmente, uma idéia. Justo nesse país que carece tanto de idéias, mas abarrotado com tantas críticas.

Sempre aquela mesma história da Educação. Foi por isso que eu não votei no Cristovam Buarque: educação é necessária, concordo. O sistema educacional do Brasil é pouco eficiente, certo. PROVAR, COTAS, REUNI. Tudo tapa-buracos de governos populistas. Culpar a educação e apontá-la, também, como solução é fácil, difícil são as idéais praticáveis. Não trato aqui de ideologias, utopias, fanatismos. Bom se o problema fosse somente educacional. O que falta no Brasil é caráter (esta parte pode ficar meio problemática, é claro que não afirmo que falta de caráter se refere à população brasileira), é o não-comodismo, a participação, o descontentamento efervescente e as caras pintadas. Esperança nós temos. Só que a canalizamos numa seleção patrocinada por empresas (que de brasileiras não tem nada) e formada por jogadores que honram nossa camisa de quatro em quatro anos (e seus bolsos no resto dos dias). Dispomos de criatividade mundialmente reconhecida: o tal jeitinho brasileiro tá aí. Preparamos bons profissionais, altamente capacitados...a atuarem em transnacionais que levam o conhecimento e o dinheiro brasileiro para longe. Santos Dumont é só um exemplo da gigante capacidade e, logo, da falta de reconhecimento do Brasil. Nosso país tem, sim, algum prestigio internacional, admito. É verdade que brasileiro é bem recebido nos outros países, mas isso porque somos um povo que não representa perigo, tão fraco de identidade nacional, tão coitado aos olhos do mundo, tão irremediavelmente 'legal'. Temos fé, sim. Grande parte dela esta nas mãos de uma Igreja preconceituosa, conservadora, demagoga e milionária. A outra parte está distribuida em outras facções, outros templos, outros dízimos, outros circos.

Arrisco dizer que somos a população mais bonita do mundo, mas perdemos nossos caráter de povo depois das Diretas Já. Os escândalos de hoje podem não ser tão descaradamente repressores, podem não mandar para outros países entes queridos, nem fuzilam milhares, mas também mancham nossa história. O perído de 1964-1989 foi resultado de um golpe político armado. O que ocorre atualmente são uma série de golpes de colarinho branco nos próprios brasileiros. Antes não tivemos opção, hoje votamos por isso. Certo, não dá para conscientizar uma população que não tem comida na mesa nem domina a leitura. Só que também não dá pra admitir que o problema do Brasil pára por aí.


obs.: População é a totalidade das pessoas que se acham, num dado momento, em determinado Estado. Tal conceito inclui toda e qualquer pessoa, independentemente da nacionalidade, idade, situação política etc. Já, povo, por outro lado, é palavra que pode revelar um conceito jurídico ou um conceito político. Povo é o conjunto de pessoas que possui o mesmo passado histórico,por exemplo. São conceitos análogos, porém inconfundíveis. Com efeito, a palavra povo apresenta pluralidade de sentidos análogos, sendo, portanto, um vocábulo plurívoco-analógico.

@ Samurai
Meu caro amigo
João e Maria (ah sim, parabéns pra nós)