quarta-feira, 13 de agosto de 2008

venha provar meu brunch

Eu me senti sufocada. No caminho de volta pra casa, sem nada pra fazer ou alguém pra conversar, comecei a prestar atenção nas placas espalhadas por aí. E me assustei. Kharina Quick Service, Marcelu’s, Porco Nobre Delivery, Disk Água, China in Box, BeHappy Academia, além dos dois postos Texaco. A única exceção foi o cemitério, que não tinha placa nenhuma (acho que a finalidade do espaço é auto-explicativa). O resto, sem diferenças entre estabelecimentos ou procedência, sempre continham alguma alusão a outras línguas. Se não fosse pelo próprio serviço prestado (Pizza Hut Restaurant), era pelo “Maxi”- matérias para escritório. Desconfio de que um estrangeiro, especialmente de origem anglo-saxônica, seria mais capaz de se virar nessa cidade que um brasileiro comum. Não passaria fome ou necessidade de grampeador, fato.

Até admito a existência da globalização, mas sou incapaz de encontrar a origem de toda essa ‘desportuguesação’ do Brasil. É mais bonito trabalhar no Champagnat Offices ao invés de Escritórios Bigorrilho? É mais fácil dizer: delivery que entrega à domicílio? Ou o lugar adquire mais status por descartar a própria língua do país onde está? O hambúrguer se chamar hambúrguer e a pizza se chamar pizza é totalmente aceitável, o que me irrita é uma empresa brasileira, de capital brasileiro, donos brasileiros, situada no Brasil chamar seu serviço de fast-food – quando a maioria dos brasileiros sequer sabe o que ‘fast-food’ quer dizer.

Os Estados Unidos espalha sua gigante influência não através de conquistas territoriais, como os imperialistas anteriores, mas enviando sua cultura em pocket-size a quem quiser comprá-la. E a quem não quiser também. O que era chamado de invasão yankee, tornou-se entrada consentida, refletida em nomes de restaurantes e prédio pelas cidades do Brasil.
A cultura de um país é o que determina sua condição de nação. Lá fora, todo brasileiro se irrita quando há um artigo publicado na Le Monde sobre os problemas daqui, se enche de argumentos para protestar contra a tentativa americana de internacionalizar a Amazônia, mas é incapaz de honrar nossa própria cultura, nossa língua e tradições.

Quando os próprios donos depreciam seus bens, o que impede que agentes externos façam o mesmo?

FELIZ DIA DO ECONOMISTA!

segunda-feira, 11 de agosto de 2008

Ao mestre, com admiração

A primeira vez que faço isso:


PROVOCAÇÕES

A primeira provocação ele agüentou calado. Na verdade, gritou e esperneou. Mas todos os bebês fazem assim, mesmo os que nascem em maternidade, ajudados por especialistas. E não como ele, numa toca, aparado só pelo chão.

A segunda provocação foi a alimentação que lhe deram, depois do leite da mãe. Uma porcaria. Não reclamou porque não era disso.
Outra provocação foi perder a metade dos seus dez irmãos, por doença e falta de atendimento. Não gostou nada daquilo. Mas ficou firme.
Era de boa paz.

Foram lhe provocando por toda a vida.
Não pode ir a escola porque tinha que ajudar na roça. Tudo bem, gostava da roça. Mas aí lhe tiraram a roça.
Na cidade, para aonde teve que ir com a família, era provocação de tudo que era lado. Resistiu a todas. Morar em barraco. Depois perder o barraco, que estava onde não podia estar. Ir para um barraco pior. Ficou firme.

Queria um emprego, só conseguiu um subemprego. Queria casar, conseguiu uma submulher. Tiveram subfilhos. Subnutridos. Para conseguir ajuda, só entrando em fila. E a ajuda não ajudava.
Estavam lhe provocando.

Gostava da roça. O negócio dele era a roça. Queria voltar pra roça.
Ouvira falar de uma tal reforma agrária. Não sabia bem o que era. Parece que a idéia era lhe dar uma terrinha. Se não era outra provocação, era uma boa.
Terra era o que não faltava.

Passou anos ouvindo falar em reforma agrária. Em voltar à terra. Em ter a terra que nunca tivera. Amanhã. No próximo ano. No próximo governo. Concluiu que era provocação. Mais uma.
Finalmente ouviu dizer que desta vez a reforma agrária vinha mesmo. Para valer. Garantida.
Se animou. Se mobilizou. Pegou a enxada e foi brigar pelo que pudesse conseguir. Estava disposto a aceitar qualquer coisa. Só não estava mais disposto a aceitar provocação.
Aí ouviu que a reforma agrária não era bem assim. Talvez amanhã. Talvez no próximo ano... Então protestou.

Na décima milésima provocação, reagiu. E ouviu espantado, as pessoas dizerem, horrorizadas com ele:
- VIOLÊNCIA, NÃO!

(Luis Fernando Veríssimo - Mais Comédias Para Ler na Escola, pág.41)


Com eu queria ter escrito isso...

segunda-feira, 4 de agosto de 2008

...sem diretor, figurino ou roteiro


É sempre assim. O time perde, a alegria cessa e o pedido é o mesmo: tira o técnico! Será que o caso é mesmo o de trocar seis por meia dúzia? O técnico já foi alterado e os resultados do time nesse mesmo campeonato não são muito melhores. É uma questão de mudança ou costume, afinal? O torcedor eufórico continua cantando por vitória, mas acostumado com um time sem estrelas, ainda contando com velhos de guerra que há tempos deixaram seu futebol em outros estádios e bordéis. E reclama da falta de pulso de um homem incapaz de fazer milagres. Concordo, o técnico é parte importante, mas fundamental mesmo é o que se apresenta em campo e isso vai além: é da vontade de vencer, de jogar, de mostrar serviço. É cansativo sentar em frente a um espetáculo de aberrações semana após semana, ouvindo na cadeira ao lado o grito de felicidade do rival. Não é questão de lavar Roberto Fernandes de toda culpa, uma vez que outros times medíocres conseguem ir mais longe, mas a mesma base de três anos (sem resultados!) não pode ser considerada um time para campeonato brasileiro, quando não consegue vencer nem o estadual. Não basta trazer jogadores emprestados, impedir um time de jogar com um ‘dos nossos’ ou botar toda fé no goleiro. É, sim, a necessidade de priorizar um time ou uma imagem, um sonho de passado recente glorioso embalado na esperança de um técnico que nunca mais deu as caras. O que eu quero da diretoria do meu time (quer dizer, o que eu considero possível dentre todas as coisas que realmente desejo) é a postura de admitir que ou o plano seja outro, ou as coisas de fato tem que mudar. Profundamente.


contextualizando:

ATLÉTICO-PR 0 x 3 botafogo
santos 1 x 3 coritiba

obs.: sou excelente em comentários esportivos mesmo.