quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Economia Comportamental x Economia Clássica

Trechos da entrevista de Dan Ariely, professor de Economia Comportamental (isso existe? parece coisa de adm)no MIT e pequisador do Federal Reserve. Economia Comportamental parece uma análise prolongada da Psicologia Social de Keynes, mas de qualquer forma é uma explicação bem simples pro que tenho ouvido por aí...



"A afirmação de que o mercado sempre vai produzir os melhores preços é um princípio econômico. É muito atrativo, mas muito errado. E os eventos recentes no mercado financeiro são uma demonstração clara disso. É impossível hoje olhar para o mercado e achar que ele é o melhor possível, racional. A crença de que o mercado se regula é muito elegante, mas depende de sermos perfeitamente racionais. Quanto mais você acredita que somos irracionais, mais você acredita que é necessário haver intervenções. Um exemplo interessante é o que está acontecendo agora no Chile. Há três meses, o governo estabeleceu que todo mundo tem de poupar 11% do salário. É uma intervenção incrível na vida das pessoas, mas é interessante. Quando as pessoas se aposentam, tudo o que depositaram durante a vida volta para elas na forma de pagamento. O que o governo viu foi que deixar essa poupança na mão das pessoas diminuía muito a chance de ela ser feita.""

A economia clássica assume que somos racionais. A economia comportamental, não. Se fôssemos racionais, não deveria haver preocupação com a saúde, porque todo mundo cuidaria da melhor maneira possível da sua. Na perspectiva clássica, não há como melhorar o mundo, porque todos já agem racionalmente. Na perspectiva da economia comportamental, temos um conhecimento limitado sobre nós. Se entendermos melhor o mundo, poderemos mudá-lo."

Por que somos irracionais?Dan Ariely – Pela própria evolução. Imagine que você é um animal na selva e vê um predador. Você pára para avaliar se é bom fugir ou ficar? Não. Você simplesmente corre. É uma ação que está além do ato pensado. Essa característica é boa na selva, mas não está de acordo com a sociedade moderna. Não fomos desenhados para o mundo que criamos. Por que achamos que podemos pensar apropriadamente sobre dinheiro? Trata-se de uma invenção nova. Nossa falta de jeito para lidar com dinheiro gerou a crise hipotecária americana.
Engraçado é imaginar que o pressuposto de boa parte da teoria neoclássica é a racionalidade do consumidor e dos produtores, no qual sempre conseguirão atingir um ponto ótimo de suas escolhas maximizando o bem estar social.

Ao averiguar que na prática a realidade é outra, vem outros conceitos complementares como a teoria dos jogos e assimetria de informações (que são por si muito mais interessante do que a crença no "homo economicus".

Keynes tornou sólido o conceito de incerteza, ao demolir a teoria clássica convencional.

Segundo Jorge Grespan:"O grande impacto da obra "A Riqueza das Nações", de 1776, foi o de sintetizar perfeitamente a trajetória econômica de um século, culminando na recomendação de liberar os mercados de qualquer interferência não econômica. A famosa imagem da "mão invisível" decorre justamente de um individualismo levado às últimas consequências. Smith afirma que só o egoísmo dos agentes econômicos é que permitiria às forças do mercado encontrarem a distribuição mais adequada dos recursos. Por outro lado, afirma também que o mercado funcionaria imperfeitamente se os indivíduos agissem influenciados por considerações éticas ou políticas, isto é, por motivos não econômicos, levados pela generosidade ou por qualquer outro impulso afetivo fora da estrita racionalidade de seus interesses particulares"

(...) no fim do século 19, quando autores como Willian Stanley Jevons (1835-1882) e Alfred Marshall (1842-1924) quiseram contornar dificuldades conceituais e políticas surgidas da teoria do valor-trabalho, não tiveram remédio senão buscar uma alternativa na subjetividade desse mesmo indivíduo autônomo e racionalmente egoísta. Elaboraram, assim, a teoria do valor-utilidade, pela qual o preço que uma pessoa estaria disposta a pagar por um bem seria definido pela utilidade que uma porção extra desse bem teria para ela. Com essa teoria econômica, chamada de neoclássica, o conceito de "homo economicus" se configura, enfim, com todas as suas características e seu nome próprio .

"A inovação da pesquisa econômica laureada com o Nobel seria, portanto, o de remover tais restrições do comportamento racional e previsível do indivíduo, incorporando a esse agente emoções e incertezas que interferem em sua opção na hora de tomar suas decisões de consumo e de produção. De certa forma, entretanto, tais caminhos também já haviam sido percorridos. Ao fundar a macroeconomia com sua "Teoria Geral", de 1936, o economista inglês John Maynard Keynes (1883-1946) concebeu variáveis de psicologia social, como as propensões a consumir e a poupar, com relevante papel em sua obra. Keynes já havia associado a quebra da Bolsa de Nova York, ocorrida em 1929, à mentalidade americana, mais afeita a apostas e ao risco. Mas, para ele, esse fator poderia, no máximo, agravar ou acelerar um processo cuja origem fosse eminentemente social."