domingo, 19 de abril de 2009

And I could be like you, angry and intoxicated wondering what to do to make them pay

Eu tenho um ‘passatempo’ quando tô em casa sem nada pra fazer (ou quando eu deveria estar estudando qualquer uma das 10 matérias que eu tô cursando esse semestre). Eu leio as revistas velhas, das semanas em que estive fora. Eu leio as notícias que já nem são mais notícias de verdade. Não me pergunte por quê. Aliás, além de ler revista velha, eu leio de trás pra frente (começo a ler a Istoé, por exemplo, pelo artigo do fim, que normalmente é legal e às vezes é o Zeca Baleiro quem escreve), mas isso é história pra analista, não pra leitores.
O que importa é que numa dessas leituras, eu encontrei uma reportagem que corrobora aquilo que eu sempre digo, mas que as pessoas teimam em dizer que não. Falava sobre a legalização –ou não- da maconha, para fins medicinais. Nisso, ainda falava sobre a possibilidade do governo holandês repensar a liberalização, porque tem se tornado um tipo de atrativo turístico (ecoturismo, ficarchapadassoturismo, por aí vai) até maior que o bairro da luz vermelha. Certo, a discussão é mais velha que a revista, mas o que me chamou a atenção foi uma foto que ilustrava a matéria. Era uma foto do Fórum Social Mundial desse ano – e não, não mostrava todo mundo entre as barracas ‘socializando’. A foto era da Marcha da Maconha, coletivo que busca estimular reformas nas Leis e Políticas Públicas quanto à utilização da maconha no Brasil*. Durante o FSM, os manifestantes organizaram uma passeata com faixas e cartazes pró-maconha, aproveitando toda atenção gerada pelo Fórum em si. Não entrando no mérito da validade do movimento ou sobre a minha opinião a respeito das reivindicações, o que eu definitivamente não concordo é com a utilização da imagem nessa reportagem.
A vulgarização do Fórum Social, a tentativa da mídia central em desmerecer o esforço popular em criar um evento para diálogo internacional, isso é um absurdo que passa em branco pela crítica das pessoas. Entre todas as revistas velhas que eu li – e as novas também, porque eu leio tudo no fim – essa foi a única foto ou informação sobre o Fórum que eu encontrei. Nada sobre os coletivos de debate sobre a América Latina, nada sobre o local escolhido não - aleatoriamente para a realização do evento, nada sobre nada, fora que milhares de estudantes viajaram milhares de quilômetros para fumar e protestar e louvar a maconha. Essa juventude drogadita e perdida! E isso tem sido uma constante quando o assunto são movimentos estudantis. O DCE, o Centro Acadêmico, as próprias Universidades Federais, tudo lugar para se fumar maconha e protestar e fumar maconha sem ser interrompido pela polícia militar. É um argumento desmoralizante e injusto com quem batalha, fumando ou não. É como se a droga resumisse tudo que acontece. Isso tem prejudicado a imagem de lutas e conquistas e faz com que várias pessoas criem certo preconceito com relação às causas estudantis.
Se estudantes universitários que, no mínimo, tem contato indireto com esses fóruns de debate sobre a situação acadêmica nacional repudiam o movimento estudantil, o que dirão aqueles leitores de classe média dos grandes centros urbanos, depois de lerem e virem tal reportagem? O movimento estudantil não é capaz de mudar o foco da grande mídia, de arrancar um pedido formal de desculpa pelos anos de ataque à sua imagem. O que se pode, sim, fazer nessa situação é combater tal ridicularizarão não abrindo margem para que isso aconteça. É não chamando as pessoas para votar no Diretório com o ‘incentivo’ de que as festas lá são legalized. É acabando com a imagem de hippie sujo e vagabundo que boa parte da sociedade tem sobre os estudantes da UFPR. Não digo aqui para aposentarem suas calças de palhaço e correrem para o salão mais próximo, mas fazer com que as boas idéias discutidas no pátio da Reitoria voem mais longe que a fumaça de seus cigarros.

* Para interessados:
www.marchadamaconha.org/

@ nenhuma música, mas vou ver Cantando na Chuva depois de postar.