segunda-feira, 5 de abril de 2010

Poema retirado de uma notícia de jornal

João Gostoso era carregador de feira livre e morava no morro da Babilônia num barracão sem número
Uma noite ele chegou no bar Vinte de Novembro
Bebeu
Cantou
Dançou
Depois se atirou na lagoa Rodrigo de Freitas e morreu afogado.

(Manuel Bandeira)

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

VOCÊ, tem que entender que eu quero muito

Eu gosto de escritores detalhistas. Gosto daqueles que falam do fio de cabelo que fica no meio do testa, mesmo quando ela penteia depois do banho. Gosto porque são essas coisas que definem. É aqui que se cria um personagem, contando sobre as sardas do lado esquerdo do rosto. Eu gosto de particularidades, de descrições, de informações que possam alimentar a imagem que eu crio de cada personagem que leio. Esse é o bom livro pra mim. Gosto quando explica a luz da sala, o cheiro da casa, o toque da roupa. Torna real mas, ainda assim, faz com que o que eu tenho como experiência (de cores, toques e cheiros) crie cada um desses momentos. É aí que o livro se torna meu, que a história se mistura com a minha. Mesmo que se passe na Russia Czarista ou no descobrimento do continente. Eu gosto tanto dessa sensação, de inércia e participação, que sempre acabo imaginando como tal autor ou tal romancista descreveria o que acontece agora. Não agora, enquanto digito, mas nos momentos mais sutis e traduziveis. Aquela mania que ela tem de pentiar o cabelo sempre que vê uma escova, ou de imaginar quantas pessoas tomam banho enquanto ela toma. Essas coisinhas que ninguém sabe, porque ninguém nunca viu, mas que a presença irrevogável dos bons escritores capta. E traduz.